Este espaço pode ser seu. Anuncie nesta página.



António Barbosa Duarte

n. 1827

c. 1861

f. 25 de Março de 1924

nss. 46


Sobre António Barbosa Duarte encontrei pouca informação em termos de datas e lugares, excepto o seguinte relatório da polícia e artigo de jornal. É claro, pela informação encontrada, que teve uma vida "agitada". Era proprietário da fazenda Santa Fé, no Brasil. Casou com Reginalda América Werneck (nss. 47), em regime de separação de bens. Quando casaram, Reginalda já tinha filhos de outro casamento, nomeadamente Pedro Moreira Werneck. Sabe-se ainda que António Barbosa Duarte fez um empréstimo de 2 contos a Francisco de Azevedo Ramos.

No relatório apresentado à Assembleia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, na primeira sessão da vigésima segunda legislatura, no dia 8 de Setembro de 1878, pelo presidente Visconde de Prados, encontra-se o seguinte anexo:

    - Relatório apresentado ao Illm. e Exm. Sr. Visconde de Prados, presidente da Provincia do Rio de Janeiro, pelo Chefe de Polícia, Dr. Luiz de Hollanda Cavalcanti de Albuquerque. O seguinte texto encontra-se nas páginas 5 e 6.


    Na fazenda de Santa Fé, na freguesia de Nossa Senhora da Nactividade do Carangola, em Campos, no dia 7 de Junho ultimo, tendo o subdelegado, em vista de uma petição que recebeu de Pedro Maria Werneck, inventariante e filho da finada D. Reginalda Werneck [nss. 47], ordenado a apprehensão de dous escravos do acervo, que estavam acoutados na referida fazenda, pertencente a Antonio Barbosa Duarte [nss. 46], dirigio-se para alli o official de justiça incumbido da diligencia, acompanhado de duas praças e mais pessoas que pôde reunir.

    Chegado que fosse ao logar, depois de feito o cerco, seriam 11 horas da noite, avisou o mesmo official de justiça ao referido proprietario da fazenda, do fim para que alli estava, e que daria a busca ordenada logo que amanhacesse o dia.

    Isso foi bastante para que Duarte, gritando para os escravos que tomassem sentido, désse logar aos mesmos escravos alvoraçarem-se e ameaçarem a escolta de que matariam os que se aproximassim da senzala, onde se achavam.

    Um dos homens da escolta, o de nome Julio Celestino Rosa, que foi o primeiro a aproximar-se, levou um tiro diparado por um buraco na parede da senzala, cahindo morto.

    Repetindo-se d'ahi os tiros, e vendo a escolta o companheiro cahido, e que perigava a vida de todos, resolveu arrombar a porta da senzala, havendo então tiroteio de parte a parte, ficando nesta luta morto um escravo, presos dous, e fugindo os mais.

    Logo que tiveram logar estes factos, o official de justiça fez partir um proprio a dar parte do ocorrido ao subdelegado que, fazendo-se acompanhar de peritos escrivão e mais pessoas, partio para o logar do conflicto, onde chegando já dia claro, e encontrando a casa de Duarte com as portas e janellas fechadas, mandou intimar que abrisse, e vendo que não era obedecido, ordenou o arrombamento das portas e a prisão dos renitentes.

    Arrombadas as portas, encontrou aquella autoridade na sala dous camaradas do mesmo Duarte, que entregaram-se sem reluctancia, e n'um quarto os dous referidos escravos Candido e Romualdo; e dava a voz de prisão a Barbosa Duarte, este resistio, houve luta, resultando ferimentos leves no mesmo Duarte e Antonio Gomes Ferreira, praticados reciprocamente.

    Afinal mandou o subdelegado proceder aos necessarios autos de corpo de delicto no escravo morto, e em todos os feridos, sendo o ferimento de Julio muito grave; ordenando tambem que se fizesse auto de corpo de delicto nos estragos e vestigios de tres arrombamentos na senzala, e abrio o competente inquerito policial, a que deu destino legal.

    

Na terça-feira, dia 17 de Outubro de 1893, o jornal "O Paiz" publicou um artigo sobre o mencionado tio Pedro Werneck e o meu avô António Barbosa Duarte (nss. 46). 


    Os abaixo assignados, proprietários, negociantes, eleitores e mais representantes de todas as classes sociaes, tendo lido nos jornaes a noticia do assassinato do jovem médico Dr. Alfredo Garção Stockler de Lima, sendo o seu assassino Pedro Moreira Werneck, que desta freguezia mudara-se para aquella cidade; e para que o generoso povo mineiro, com quem confinamos e mantemos relações, não entenda nos lugares mais remotos que aquelle assassino seja cópia dos nossos pacificos actos, protestamos contra o procedimento selvagem e fazemos publico que esta freguezia regosijou-se quando Pedro Moreira Werneck tomou a resolução de mudar-se, deizando em sucego esta mesma freguezia.

    Pedro Moreira Werneck é conhecido ha muito tempo como desordeiro e de mao coração.

    Em 1878 assaltou, à frente de apaniguados, a fazenda Santa Fé, de propriedade do seu ex-padrasto Antonio Barbosa Duarte, sob pretexto de apprehender uns escravos partilhados, que o não queriam servir, abrigando-se á protecção de Barbosa Duarte, e ahi foram accommettidos não só este cidadão e sua respeitavel familia, como seus escravos, sendo um destes ferido gravemente, e o outro assassinado (o denome Manoel), Barbosa Duarte escapou milagrosamente de ser assassinado, sendo isto devido a sua nobre esposa e filhas que o cercaram, pretendendo Pedro Werneck atira-lo da janela do sobrado.

    Fazendo conduzir preso e algemado seu ex-padrasto todo ensanguentado por pancadas que recebeu na cabeça, foi arrastado para a Natividade e posto em tronco!

    Sua infeliz o enternecida esposa, vendo tantos tormentos contra seu marido, enloqueceu de dôr, e pouco tempo sobreviveu!

    O assassino, apezar de ser iniciado o processo em Campos, não foi punido, attenta à protecção dos perversos daquelles desgraçados tempos.

    O perverso Pedro Werneck praticou tantas barbaridades em casa de seu ex-padrasto que seria longo e doloroso expor; e se for tudo isto posto em duvida a prova virá completa, sob palavra, e ainda será apresentada a roupa ensanguentada de Barbosa Duarte, e como tal conservada.

    Este mesmo Werneck tentou matar seu cunhado António José Coutinho, em casa de negocio do capitão Rosa, neste arraial, e o conseguiria se a Providencia não valesse à victima.

    Esteve em luta aberta com seu distincto cunhado Dr. Joaquim Werneck e o seu não menos estimavel cunhado José de Azeredo Werneck, que viu-se obrigado, para livrar-se das suas garras, a ir comprar uma situação no morro do Coco, abandonando a primeira que tinha na fazenda Boa Vista, onde moravam juntos.

    Foi casado com a primeira Sra. D. Reginalda, que muito sofreu por ser elle desmoralisado e pessimo marido!

    Seria longo o horrivel narrar qual a vida de tal homem, que, tendo podido escapar à legitima punição pela inmerecida protecção das autoridades e outros tempos, fazem os abaixo assignados votos para que a recta justiça de Minas tenha a gloria de exercer agora o gladio da lei cumprindo a nobre missão de atar a mão do criminoso para socego e paz de todos os cidadãos pacificos, que ainda podem ser victimas de um tal sicario.

    Não se illuda a justiça com o pretexto que elle ou algum seu protector espalhou de ter ele praticado este ultimo crime por questão que se prende á honra da familia. A sua malvadez e falta de coração excluem tal supposição, tendo de mais commettido o crime com premeditação e contra um moço inerme e à luz do dia!

    Com esta espontanea manifestação só temos por fim expor a verdade e pedir ao povo mineiro que, por um desordeiro, não tire a conclusão de que esta freguezia, donde elle saiu, compartilhe dos mesmos sentimentos.

    Santo António de Carangola, 22 de Setembro de 1893.

[signatários, de onde se destacam: António Barbosa Duarte (nss. 46), e Maria Pia Duarte Gomes (nss. 23)]

Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

In memoriam - Vasco Manuel Guizado Mota Carmo

Vasco Manuel Guizado Mota Carmo - prisão na Guiné-Bissau

Jacob Baptista Ribeiro Guizado



Este espaço pode ser seu. Anuncie nesta página.